Não sei se os conimbricenses já se aperceberam mas está em contagem decrescente a sua oportunidade de se pronunciarem contra um atentado à sua cidade.
Até 10 de Novembro está em consulta pública o processo de avaliação de impacte ambiental do novo IC2.
Até aqui talvez alguns já soubessem. Agora quem sabe que o traçado em avaliação prevê uma nova ponte sobre o Rio Mondego? Em cima da Mata do Choupal? Isso já é provável que seja menos conhecido. Até porque na única notícia publicada na cidade ´sobre o assunto (no Diário de Coimbra) era referido que o novo IC2 passava «nas proximidades» do Choupal. Nas proximidades?! Em cima! melhor dito.
E porque é que não se fala deste assunto? Porque parece haver um manto de silêncio sobre este atentado que vai destruir mais uma parte do Choupal, afastá-lo da Cidade, e torná-lo menos apetecível? Quem fizer uma busca simples na internet verifica a quantidadede notícias sobre reclamações pontuais ao traçado do IC2 na Trofa, em Águeda, em Avelãs-de-Cima, etc. etc.. Em Coimbra? Nada.
Será que Coimbra tem tantos espaços verdes que possa assim dispensar o Choupal como coisa de somenos? Será que a cidade não viu já suficientes atentados ao património na sua História recente?
Esta travessia irá constituir mais um desbaste e amputação da Mata Nacional do Choupal, indelével, pensava-se, património cultural, social, ambiental, paisagístico e histórico não apenas da cidade de Coimbra mas de todo o país.
A ponte em causa, além de destruir a vegetação da área directamente afectada, irá constituir um imenso factor de perturbação e poluição, sonora, atmosférica e visual, inutilizando a área a este da ponte do Caminho de Ferro. Esta é a área primordial de ligação pedonal e ciclável da mata à cidade. mais longe e isolada vai ficar a Mata Nacional do Choupal, menos qualidade de vida e de usufruto vão ter os que a demandam. Pelos visto para se ir praticar desporto terá mesmo que se ir de carro!
O ruído vai aumentar imenso na zona, e levar mais para o coração da mata os pontos de origem. Aumentará igualmente a poluição atmosférica. Realmente a ponta Este da Mata Nacional do Choupal vai-se tornar uma terra de ninguém! Porque ninguém que ouça, veja ou, no mínimo, respire, quererá ser apanhada entre duas autoestradas numa zona que pretende ser espaço verde (é-o a nível do PDM) e Mata Nacional de Regime Florestal Total (já houve tempo em que isto queria dizer algo).
São mais de 4 hectares de Mata que ficam inutilizados. São mais de 300 metros que a mata recua. São 700 metros de caminhos na mata que ficam sob o efeito da autoestrada.
Por outro lado, tendo em atenção as dimensões previstas da nova ponte, mais larga e mais alta que a Ponte-Açude irá aumentar drasticamente a barreira visual entre a mata e a cidade. Acabará a nobre vista que quem se desloca de comboio actualmente desfruta da cidade. Este é um património intangível que, em países com orgulho do seu grau civilizacional, é preservado e valorizado, não liminarmente ignorado.
E tudo isto para quê? Para que quem vem do sul e vá para norte não tenha que passar na actual Ponte-Açude. Não serve o tráfego local. Logo poderia perfeitamente ser afastada de Coimbra. Para quê vir aumentar a perturbação de modo drástico?
Atendendo ao grau de desenvolvimento da engenharia portuguesa esperar-se-ia mais algum engenho na adopção de uma opção de travessia. Esta é uma solução preguiçosa, prepotente e desrespeitosa. É uma solução atamancada, que serve mal quem deveria servir melhor e que causa impactos dramáticos localmente.
Deve ser rejeitada e procurada uma verdadeira alternativa que não comprometa o desenvolvimento futuro e a qualidade de vida, presente e futura.
Deve ser dado parecer negativo à travessia do Rio Mondego com afectação da Mata Nacional do Choupal e da Cidade de Coimbra.
Podemos, pelo menos, não nos conformar. Participe! Escreva, antes de 10 de Novembro, ao Director da Agência Portuguesa do Ambiente dando conta da sua oposição a esta má solução.